domingo, 26 de agosto de 2012

Me

Estou rezando...
Me deixa gostar das coisas loucas?
Me deixa tentar o impossível?
Me deixa um pouco de glamour, pois me falta o bom gosto?
Permita-me viver só que eu puder lembrar?
Deixe-me sozinha para encontrar-me comigo.

Por piedade, deixe que eu finja que sei de outros ares, que eu refine meu pensamento.
Meu pensamento interno, quase real, quase imaginário, quase louco, pouco são.
Deixa-me rezar...

entre cinzas e cigarros

Entre cinzas e cigarros
O que pode vir?
Entre cinzas e cigarros, a fumaça, o paladar.
Entre cinzas e cigarros
Teu cheiro, tua cor.
Entre cinzas e ...
Acende um cigarro, que a fumaça apaga medos.

De tarde

"Eu estava rezando para ter mais paciência e compreensão, mas desisti. Fiquei com mêdo de ser atendida"! Lucy Van Pelt.

sábado, 28 de julho de 2012

Arte

Não há como negar, sinto o chamado esgotante da arte em mim.
Sinto a arte me buscando, tentando me envolver, berrando em meu dia-a-dia. Mas como encontrá-la?
Ah, isso é fácil. Há arte por todo lugar, há arte até onde não há nada artístico. Uma pequena piscadela e pronto, já há arte.

Mas não tenho esse dom, sinto que há em mim muito a desabrochar, tenho uma necessidade urgente de demonstrar o que eu sinto, de transbordar toda essa energia aflita, mas como?
Eu não consigo encaixar esta urgência insana, essa pulsão de vida tão ávida que é quase morte.
Se dom se nasce, eu ainda não nasci ainda, estou no ventre de uma espera tardia de emoções, preciso me emancipar de mim, mas nada tenho a não ser o isso.

E isso já nem me basta mais, quero ser como um artista nato, mas sem mãos e braços, sem a arte natural que não me contempla.
O isso é muito pouco, mas não me preocupo mais, ardo em silêncio, aqui... sozinha.

E que o divino me contemple neste meu aniversariar, com um dom novo, pra mim que já estou velha de mim mesma, de um dom único e verdadeiro, pra quem já está cansada de esperar...

Roubando um pouco da essência de Florbela Espanca

"O meu mundo não é como o dos outros; quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que tem saudade... sei lá de quê!"

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um conversa

E era tanto amor que nem poderia agradecer a altura.
Não fui feita para receber, sou dotada de uma culpa inesgotável, nunca fui merecedora de muito. Sempre me contentei com o aceitável e o natural.
É duro receber aquilo que nunca se fala, porque é raro. E o raro é sempre dos outros, por isso fui educada a aceitar a vida como um golpe de espada, pois se já estamos no chão é mais fácil compartilhar a dor e se apropriar das feridas.
Ao menos eu fui poupada de um mal pior: sofrer de normalidade.


Objeto Indentificável

Sou toda composta de preocupação.
Estou tão preocupada que esqueço de viver os detalhes, o completo e o todo.

Hoje eu queria escrever no masculino só pra ver se preocupo menos.
E toda essa volta, refletindo o suor, a espera, a ânsia inesgotável como a um prematuro que não vê a hora de nascer.

A espera é tão sufocante que me corta o ser. Se eu vivesse só de vida, bastaria?
É que viver somente, é tão simples que não me basta. Tenho que estar atenta a todo o instante, a todo momento que está sendo. E só assim é como se de fato eu vivesse.
Nem sequer posso piscar, os olhos petrificam-se na tentativa de absorver qualquer tempo. Um segundo é dolorosamente observável. Se passa, já sucumbi.

O Homem no genérico é masculino, quando trato-me de um todo sou Homem e por isso masculino também. Ser Homem é vasto, o feminino é o oposto, o contrário, um adjetivo... Um objeto!
Ser feminino é delicado, e por isso cheio de preocupações. Como se não bastasse, ainda carrego esse fardo, e ainda cabe-me viver Mulher.
Já bastariam as dores e aflições da humanidade, ainda venho detalhe, pequena e solitária.

Estou muito preocupada, por isso sinto a vida pulsando aqui, forte e atenta. Tenho muitas coisas pra pensar e não estou com vontade. Tenho muitas pessoas a lembrar e mal tenho memória de mim.

Se eu fosse sozinha no mundo com o que eu me preocuparia? Perguntar já é me preocupar e não poder livrar-se de se esquecer.
Esquecer é quase como morrer na memória, mas continuo sendo objeto, objeto de mim mesma, que só consigo identificar porque preocupo e nada mais me resta.
Essa é minha essência imutável, constituída pelo que se percebe, no mais é fatal.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

No bar...

Eu: Garçon, um pouquinho de paz por favor
- Mas traga uma dose de Vodka com coca-cola antes, para que eu tome em um gole único se a paz demorar a chegar.
E eu volto a escrever... Volto a escrever uma coisa que é interessante de se escrever e talvez não de se falar, pois a palavra tem um peso e é mesmo sobre isso que quero dizer.

Talvez você não saiba, mas pago um preço alto por ser assim, por falar o que penso, sem medo.
Seja transparente com você e conheça a fundo quem está ao seu lado, este é um bom lema. Sou, fui e sempre serei adepta da pura e simples sinceridade, da clareza, da franqueza em alto grau.

No meu caso não se passa nem pela questão da escolha, eu simplesmente não consigo não dizer, não me expressar, não colocar pra fora qualquer sentimento ou impresão que eu esteja tendo. Poderia sim, usar diferentes máscaras, mas não acredito nelas. E é como a urgência de um vômito, vomita-se e pronto, não se planeja, acontece.

E falar o que eu sinto tem essa urgência, essa exigência. O sentimento está lá, mas isso apenas não basta, sirvo-me da palavra, escandalizo, multiplico.
E quando, por algum motivo maior não posso assim fazer, eu sofro. É como se eu cozinhasse um monte de pedra bruta dentro de mim, que nunca vai afofar, a não ser que eu a regujite. E eu geralmente regujito.

Uso um crivo, é claro, Crivo esse que tive que tecer com o preço de cada sentimento falado, crivo esse tecido com dor, maturidade e empatia. Procuro sempre usá-lo da melhor forma, mas as vezes, a forma certa de usá-lo é tão violenta quanto como se ele não existisse.

Muitos se afastaram de mim, muitos não entendem essa minha louca necessidade expressar, muitos criticam e muitos não entendem. Queria eu, que você aceitasse esse meu lado selvagem, quase sem molde, solto, que transborda exageradamente e cessa, no momento oportuno, mas cessa.
É doloroso se dizer o que anseia em ser dito, é triste ser julgado por isso e é solitário quando não me entendem.
Uma pausa para parafrasear minha mãe literária: "Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo." Clarice Lispector.

E no momento que você perceber que o meu "lado quase feio" também é meu lado e também faz parte de mim tão intrinsecamente quanto meus braços, talvez você consiga entender o meu "quase tudo".

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Dia em que decidi não fazer como sempre faço

Os erros que a gente comete nesta vida costumam ser mais lembrados do que os acertos.
Nada de novo sob o sol: rir das fraquezas alheias é uma atitude humana.
Mas não precisávamos ser tão humanos assim.
Torno a errar toda vez que faço a única coisa que sei fazer.
Hoje, farei diferente, vou me permitir escutar a voz de Deus.